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Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho

Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho A Prefeitura de Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, inf...

Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho
Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho (Foto: Reprodução)

Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho A Prefeitura de Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, informou no final da tarde desta quarta-feira (17) que vai publicar um decreto para revogar a prática de nudismo na Praia do Pinho. O município disse que apresentou nesta quarta a minuta do documento que proíbe o naturismo ou qualquer outra prática semelhante nas praias da cidade. A Praia do Pinho é a primeira praia de naturismo do Brasil. Em nota, a Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) manifestou "preocupação e pesar" diante da medida. "Trata-se de um marco histórico do naturismo brasileiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que por décadas representou um ambiente de convivência respeitosa, liberdade responsável e contato consciente com a natureza" (leia a nota completa no fim do texto). ✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp Nudismo passa a ser proibido na Praia do Pinho, em Balneário Camboriú O decreto para revogar a prática foi apresentado às associações de moradores das praias agrestes e às forças de segurança. 🏖️ Naturismo é uma filosofia que prega autorrespeito, autoconhecimento, respeito ao próximo, alimentação saudável e preservação da natureza. Dentro deste modo de viver, também está a prática de nudismo social. Como é a Praia do Pinho, a 1ª de naturismo do Brasil SC possui 3 praias de naturismo, o maior número do país; conheça Praia do Pinho, em Balneário Camboriú Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau/Divulgação A prefeitura disse que, ao longo dos anos, a Praia do Pinho perdeu o verdadeiro sentido de uma praia de naturismo e passou a ser utilizada para atos ilícitos e crimes sexuais. A proibição foi apresentada pela prefeita, Juliana Pavan, em uma reunião no gabinete, com representantes dos bairros de Taquaras, Estaleiro e Estaleirinho. O decreto será publicado e passará a valer após a sanção da lei que instituirá o novo Plano Diretor do município, em votação na Câmara de Vereadores. De acordo com a prefeitura, o texto do novo Plano Diretor não prevê a reserva de praias da cidade para o naturismo – diferente do que está em vigor, de 2006, que formalizou a Praia do Pinho para a prática do naturismo. Praia do Pinho, em Balneário Camboriú PMBC/Divulgação 🏖️Como é a Praia do Pinho? A Praia do Pinho é considerada a primeira praia de naturismo do Brasil. De fácil acesso, o espaço tem cerca de 500 metros de extensão e fica entre as praias de Laranjeiras e do Estaleirinho. O nudismo existe no local desde 1980. A prática de não usar vestimentas no local é um dos principais fundamentos do chamado naturismo. Pessoas de todas as idades podem frequentar a praia, de crianças a idosos, além de casais hetero ou homoafetivos. Homens solteiros também podem ficar na faixa de areia. Não é permitido fotografar ou filmar, mesmo de longe, a praia sem a autorização dos frequentadores. É proibido atos de cunho sexual ou obscenos, porém o Complexo Turístico Praia do Pinho, afirma que, como pessoa jurídica, não pode interferir na faixa de areia, por ser área pública, e de total responsabilidade dos órgãos públicos. Praia do Pinho, em Balneário Camboriú Patrick Rodrigues/ NSC 🤔Qual a diferença entre nudismo e naturismo? Segundo explica Susan Letícia Gals, integrante do movimento e tesoureira da Associação NuParaíso, responsável pela manutenção da Praia do Pinho, o naturismo pode ser classificado como uma "filosofia de vida que engloba várias atitudes e, dentre elas, o nudismo". De acordo com Susan, os espaços são reconhecidos pelos municípios e pela Federação Brasileira de Naturismo (FBrN). A entidade possui regras para os visitantes, mas afirma que não há espaço delimitado para pessoas que querem andar nuas ou idade mínima para frequentar os espaços. Não é permitido fotografar ou filmar a praia, mesmo de longe, sem a autorização dos frequentadores. O que diz a Federação Brasileira de Naturismo Confira abaixo a nota completa da Federação Brasileira de Naturismo. A Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) manifesta profunda preocupação e pesar diante do encerramento da prática do naturismo na Praia do Pinho, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, em decorrência da aprovação da PL 10/2022 e das alterações introduzidas pelo novo Plano Diretor do município. A Praia do Pinho não é apenas um espaço geográfico. Trata-se de um marco histórico do naturismo brasileiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que por décadas representou um ambiente de convivência respeitosa, liberdade responsável e contato consciente com a natureza. É fundamental esclarecer à sociedade alguns pontos que têm sido, reiteradamente, confundidos ou utilizados de forma inadequada no debate público. Naturismo não é nudismo desordenado O naturismo é uma prática regulamentada, baseada em valores claros: respeito mútuo, convivência social, ética, preservação ambiental e responsabilidade individual. Não se confunde, em hipótese alguma, com comportamentos inadequados, atos obscenos ou crimes sexuais. Crimes são crimes — independentemente de onde ocorram — e devem ser combatidos com fiscalização, investigação e punição, não com a extinção de uma prática legítima e reconhecida mundialmente. Criminalidade e omissão do poder público Os próprios debates realizados na Câmara Municipal evidenciaram que práticas criminosas, inclusive de natureza sexual e relacionadas ao uso de drogas, ocorrem em diversos espaços públicos de Balneário Camboriú, e não exclusivamente na Praia do Pinho. Diante disso, questionamos: Por que a resposta escolhida foi abolir o naturismo, em vez de fortalecer a segurança, a fiscalização e a aplicação da lei? Punir corretamente uma minoria que age fora das normas sempre foi, e continua sendo, mais eficaz do que eliminar um direito coletivo por falhas de gestão e ausência do Estado. Ausência de associação local e responsabilidade compartilhada Reconhecemos que a ausência de uma associação naturista local, forte e atuante, contribuiu para o enfraquecimento da defesa do espaço. Uma sociedade organizada é sempre mais respeitada — porém, também sabemos que nem sempre é fácil encontrar pessoas dispostas a assumir responsabilidades, enfrentar críticas e “colocar a cara a tapa”. Ainda assim, a falta de organização civil não justifica a supressão de um direito cultural e social, especialmente quando existem instrumentos legais e administrativos para coibir abusos. Interesses imobiliários e falso moralismo A possível venda do Complexo do Pinho e a crescente especulação imobiliária na região levantam preocupações legítimas. O discurso moralista, em muitos casos, esconde interesses econômicos claros. Em diversos momentos na Câmara Municipal foi dito sobre atos sexuais praticados em diversos locais, inclusive centrais de Balneário Camboriú e que não são áreas naturistas. É importante lembrar que grande parte das pessoas que hoje pedem o fim do naturismo escolheu morar na região quando a praia já era oficialmente naturista, ou seja, tinham pleno conhecimento da vocação do local. Optar por mudar a lei, em vez de respeitar o ambiente escolhido, revela um comportamento egoísta e excludente. Democracia, diversidade e respeito Santa Catarina possui centenas de praias. Quantas se tornaram áreas restritas por empreendimentos imobiliários e não por ser área naturista? É realmente tão difícil garantir um pequeno espaço para quem escolhe viver e se expressar de forma diferente? A democracia se constrói com diversidade, não com imposição de um único modo de pensar ou viver. Defender o fim de um espaço isolado, de acesso voluntário, não é proteção da moral — é negação da liberdade alheia. Conclusão A Federação Brasileira de Naturismo entende que o fim da Praia do Pinho como área naturista representa uma perda histórica, cultural e social, fruto de omissões, desinformação, interesses paralelos e intolerância. Seguiremos defendendo o naturismo como prática legítima, ética e respeitosa, bem como o direito à diversidade, ao diálogo e à convivência democrática. O combate ao crime se faz com lei, presença do Estado e punição aos culpados, não com a eliminação de direitos de quem sempre agiu corretamente. Paula Silveira Presidente da FBrN - Federação Brasileira de Naturismo VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias